EN

| |   |   |   |  

GRANDE ENTREVISTA

Luís Araújo, Presidente do Turismo de Portugal

Portugal tornou-se, nos últimos anos, um destino mundial de referência, registando índices recorde de visitantes ano após ano. O que torna, a seu ver, o país tão atrativo?

 

Nunca o turismo foi tão dinâmico e teve tanto impacte na economia nacional como hoje. Estes bons resultados são fruto de uma estratégia cuidadosamente delineada, a Estratégia Turismo 2027 (ET27), que aposta num esforço conjunto de todos os agentes do setor, públicos e privados, e define linhas de atuação para posicionar Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo, com um território coeso, inovador e competitivo, que valoriza o trabalho e o talento. Um país inclusivo, aberto e tecnológico, onde o turismo é um hub para o desenvolvimento económico e a sustentabilidade social e ambiental.

 

Mas, acima de tudo, diria que são os portugueses o “segredo” do sucesso do turismo em Portugal. Não apenas pela hospitalidade que nos é característica enquanto povo, mas também, pela qualidade dos recursos humanos que trabalham neste setor.

 

E depois, claro, beneficiamos de condições ímpares no nosso território. Temos um clima ameno ao longo de todo o ano, com uma média de 300 dias de exposição solar, mais de 8 séculos de história e cultura, uma costa atlântica que percorre a quase totalidade do país, uma gastronomia e vinhos absolutamente ímpares. Uma multiplicidade de experiências de norte a sul, este e oeste: desde praia, neve, Turismo Religioso, Enoturismo, festivais de música. Em Portugal há tudo, para todos os gostos e idades.

 

O nosso objetivo é continuar a apostar na qualificação da experiência turística para que, quem nos visita, queira permanecer por mais tempo, tenha a possibilidade de vivenciar o território e que a partida imprima a vontade de regressar.  Trata-se de um destino turístico não só para visitar, como para viver, estudar, casar, investir e criar empresas.   

 

O desafio é agora o de criar um ciclo sustentável, assegurando uma maior distribuição dos fluxos turístico no tempo – colmatando a sazonalidade – e no espaço – estendendo-se a todo o território. De que forma é o Turismo de Portugal irá atuar neste sentido?

 

A aposta na formação é um dos objetivos da ET27 e um passo estratégico para desenvolvermos o território através do turismo. Tendo em conta que são as entidades públicas locais e regionais que, em primeira mão, interferem na valorização e apoio ao desenvolvimento do turismo, importa dotá-las com as competências de negócio e de marketing que, por um lado, vão ao encontro dos mercados e dos novos perfis de consumidores e, por outro, promovam a oferta de produtos turísticos compósitos e de maior valor acrescentado, assim como de maior riqueza, emprego e de desenvolvimento económico das regiões.

 

Os organismos públicos, desde o nível local ao regional, com responsabilidades no desenvolvimento e na gestão do turismo, têm um importante papel a desempenhar nesta ambição de promover uma procura mais homogénea por todo o território, durante todo o ano. É necessário criar condições de atratividade e de estruturação de oferta em municípios que não são tradicionalmente destinos turísticos e onde o turismo pode assumir um papel importante na estratégia de desenvolvimento.

 

Sem dúvida, capacitar sobre estruturação de produtos turísticos, captação de investimento, dinamização de redes locais, marketing territorial e digital, inovação em turismo, mercados, produção de conteúdos e instrumentos de apoio ao turismo são medidas essenciais que, potenciando o turismo local e regional, convergem para o desenvolvimento económico, a preservação ambiental, a valorização cultural e o bem-estar social desses territórios.

 

Para além da grande aposta que tem vindo a ser feita na formação enquanto fator de desenvolvimento, ambicionamos crescer em valor. Temos de continuar a promover os produtos que ainda têm potencial de crescimento e atingem segmentos com maior capacidade financeira – como o Enoturismo e o Turismo Literário -, segmentar os mercados e focar a mensagem.

 

Vamos, cada vez mais, apostar na promoção do destino Portugal em mercados não tradicionais, e reforçar a comunicação nos mercados habituais, para que possamos manter os bons resultados, também, nos meses de menor procura.

 

Sendo um dos setores de maior tradição em Portugal, baluarte dos valores de identidade e autenticidade que servem de mensagem à promoção turística do país, como vê o potencial da joalharia enquanto vetor de atração e valorização da experiência de turismo em Portugal?

 

Um dos objetivos do Turismo de Portugal é o desenvolvimento de uma oferta turística diferenciadora. A joalharia, uma indústria consolidada e uma das tradições mais antigas do país, símbolo indelével de autenticidade, tem todo o potencial para reforçar a atratividade do território e enriquecer a experiência de quem nos visita.

 

No sentido inverso, a joalharia portuguesa tem vindo a apostar na internacionalização, carregando a sua própria “bandeira”, “Portuguese Jewellery”, como chancela de qualidade, tradição, património, manualidade, que em muito são valorizados nos mercados externos. De que forma é que as nossas empresas podem também tornar-se embaixadoras de Portugal no mundo? 

 

O contributo desta indústria é uma mais-valia para a marca Portugal. Nos últimos anos temos vindo a assistir à consolidação de uma estratégia que passa, também, pela internacionalização deste setor e ao surgimento de novos criadores, com novas dinâmicas, que têm vindo a recuperar técnicas e desenhos tradicionais, moldando-os aos paradigmas atuais do design e da moda, conferindo-lhe contemporaneidade. E Portugal, enquanto destino turístico é uma tendência a nível internacional, pelo que devemos aproveitar o momento para divulgar recursos que, sendo elementos identitários da nossa arte e cultura, são turisticamente menos mainstream.

 

O desenvolvimento de novos produtos turísticos é um aspeto fundamental da nossa Estratégia. Para termos turismo em todo o país, e ao longo do ano, há que identificar tendências e segmentos de forma a, de forma sustentável, criar experiências únicas que contribuam para o posicionamento de Portugal enquanto destino turístico. A associação de atividades específicas ao turismo tem sido feita com muito sucesso em várias situações: porque não com a joalharia?

 

O comércio de joalharia tem beneficiado de um importante impulso do turismo, tanto a nível do visível aumento de pontos de venda, como da criação de novos formatos para novos públicos (concept stores, lojas de design de autor, etc). Como vê esta evolução e o seu potencial contributo para a criação de valor associado ao consumo?

 

A experiência de Portugal enquanto destino passa pelo contacto com uma diversidade de negócios: transportes, restaurantes, oferta cultural, animação turística, comércio, entre outros. Quando conseguimos atrair um número significativo de turistas, há certamente impacte numa série de outros setores que veem o seu potencial público aumentar exponencialmente, dinamizando a economia, no seu todo.

 

Por outro lado, a nossa prioridade, assumida na Estratégia Turismo 2027, é crescer cada vez mais em valor e em mercados com maior poder de compra. E o turismo em Portugal continua a crescer, nas vertentes interna e internacional, a um ritmo bastante superior ao crescimento da procura mundial. Os resultados também continuam a demonstrar uma clara tendência de diversificação de mercados, com crescimentos exponenciais nos EUA (+20,2% dormidas) e na China (+16% dormidas), sendo os mercados que mais cresceram em 2019.

 

A joalharia portuguesa está sobretudo alicerçada em três polos: Guimarães, Gondomar e Póvoa de Lanhoso. Que oportunidades se abrem no sentido da criação de uma estratégia de turismo industrial para a joalharia portuguesa?

 

O Turismo de Portugal apresentou recentemente o Plano de Ação para a implementação de uma Rede de Turismo Industrial. O objetivo é desenvolver uma oferta turística diferenciadora, ancorada nos ativos dos territórios e suportada em visitas a fábricas em laboração e a equipamentos museológicos ligados a antigos complexos industriais e saberes fazer, complementadas com diferentes experiências de contacto com os produtos e processos produtivos. Este plano visa reforçar a atratividade dos territórios de baixa densidade e captar mercado nacional e internacional, ao longo de todo o ano, em alinhamento com a ET27.

A criação desta rede tem subjacente uma atuação concertada com os agentes dos territórios, públicos e privados, privilegiando, assim, uma abordagem nacional que permita ganhar escala e maior notoriedade.

 

Até 2022 vão ser desenvolvidas ações no âmbito dos recursos, produto e promoção e venda, assim como no modelo de gestão, o qual prevê a constituição de um Grupo Dinamizador e a celebração de um Memorando de Entendimento entre os parceiros públicos e privados aderentes.

 

Destaca-se o levantamento e caracterização dos recursos associados à indústria viva e ao património industrial, a capacitação dos agentes, a melhoria das condições de visitação, a implementação de medidas conducentes à certificação (Norma de Qualidade Turismo Industrial – NP 4556 – 2017) e a identificação de programas e circuitos para venda a turistas nacionais e internacionais.

 

Os projetos de valorização do Turismo Industrial, desde que tenham subjacente uma abordagem em rede, uma oferta inclusiva e com práticas sustentáveis, vão poder recorrer a financiamento através do Programa Valorizar, Linha de Apoio ao Desenvolvimento de Produto, e que será aberta a curto-prazo.

 

Será também criada uma plataforma digital, agregadora da oferta, complementada por ações de promoção internacional e, em 2021, implementado um sistema de monitorização.

 

O Turismo Industrial tem vindo a consolidar-se em Portugal. São já várias as empresas e também municípios de todo o país que dinamizam iniciativas de Turismo Industrial, contribuindo, assim, para um melhor conhecimento da produção nacional, distinta na tradição e na modernidade.

 

 

Leia a entrevista completa aqui


SHARE WITH


27 · 05 · 2020