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COORDENADAS DA PRÓXIMA DÉCADA

O que é que a próxima década reserva ao universo da joalharia portuguesa? Convidámos 10 personalidades a partilhar a sua visão sobre o futuro do setor, apontando caminhos à sua evolução e adaptação a um mundo em permanente mudança. 

 

 

Luís Castro Rodrigues 

Presidente da AICEP – Portugal Global 

 

O setor da Ourivesaria e Joalharia nacional, um dos mais criativos e inovadores do nosso país, já é reconhecido internacionalmente pela alta qualidade e tradição dos seus produtos. A elevada inovação, qualidade e autenticidade da nossa ourivesaria, joalharia, bijutaria e relojoaria têm permitido uma crescente notoriedade do setor em vários mercados internacionais, com especial destaque para Espanha, Hong Kong, Alemanha, Itália, EUA, França e Suíça.

 

As empresas portuguesas aliam a tradição da arte a conceitos inovadores de design, utilizando novas ferramentas e matérias-primas. Para o bom desempenho e evolução positiva do setor, muito têm contribuído os esforços conjuntos de promoção internacional da indústria e suas potencialidades por parte das empresas e Associações, em particular a AORP - Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal, em estreita colaboração com a AICEP.

 

Continuar a trabalhar para potenciar a notoriedade da marca Portugal é o nosso maior desafio para o futuro. A aposta no design, qualidade dos produtos, customização e utilização de novos materiais, ao mesmo tempo que se valoriza a tradição e o know-how, são o caminho a seguir.

 

 

Nuno Mangas

Presidente do IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação

 

O setor da ourivesaria apresenta um trajeto notável nas últimas décadas, exibindo uma boa capacidade de resposta aos desafios do mercado, dos consumidores e da sustentabilidade dos negócios. A joalharia portuguesa é, na atualidade, um setor que projeta modernidade, criatividade e arrojo, numa área de negócio centenária, que tem sabido transmitir o conhecimento e o saber fazer.

 

Face a esta trajetória de crescente afirmação aliada à participação das novas gerações na condução das estratégias empresariais do setor, orientadas para mercados exigentes e sofisticados, acredito que o setor saberá continuar a reinventar os métodos tradicionais, preservando uma importante vantagem competitiva: o diálogo e as sinergias conseguidas entre os fatores conhecimento, tradição, inovação e modernidade.

 

 

Eunice Neves

Diretora do CINDOR – Centro de Formação Profissional da Indústria de Ourivesaria e Relojoaria

 

Motivado, inovador e competitivo. É assim que perspetivo o setor para a próxima década!

 

Para tal, é fundamental que as empresas invistam na sua modernização, inovação e internacionalização. Por outro lado, a aposta na comunicação e no design é decisiva para que possam afirmar-se globalmente na fileira da moda! Acrescem os desafios emergentes, de que são bem ilustrativos os imperativos da ética ambiental, da sustentabilidade e da economia circular. Qualificação e formação são, a meu ver, as palavras de ordem para robustecer as empresas do setor, dando-lhes o músculo e a fibra necessária para corresponderem da forma o mais adequada possível a esses reptos. Saibamos, pois, valorizar esse ativo absolutamente determinante da ourivesaria: os recursos humanos.

 

 

Rosa Maria dos Santos

Investigadora do CITAR (Centro de Investigação em Tecnologia das Artes) da Universidade Católica

 

A ourivesaria tem um lugar especial na cultura portuguesa, sobrepondo-se a crises económicas e tendências geracionais. Mais do que reserva de valor e codificação de estatutos sociais e económicos, reflete personalidades e gostos, transmite mensagens, cria identidades e espelha crenças divinas e mágicas. Por isso, é insubstituível. Porém, urge preservar técnicas e modelos tradicionais e abrir o leque à criação e a novas tecnologias, para que se mantenha uma das características fundamentais da ourivesaria, a de um produto de excelência.   

 

 

Bárbara Vasconcelos

Diretora da Unidade das Contrastarias na Imprensa Nacional - Casa da Moeda

 

É difícil resumir todos os meus desejos. Uma ourivesaria forte tem de ser acompanhada por uma Contrastaria inovadora, em diversas perspetivas: nos espaços, mais perto de quem cria, junto de incubadoras, como faremos no próximo mês em Gondomar e futuramente em Lisboa; na forma de relacionamento, aproveitando as novas tecnologias para melhorar o atendimento; nos níveis de serviço, onde temos que ser mais ágeis e céleres; e nas novas tecnologias, com uma marca única e rastreável – UniqueMark – que contribuirá para a valorização do setor. Inovar com tradição é um desafio.

 

 

Ana Teresa Lehmann

Professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto 

 

Creio que a evolução do setor será moldada por duas grandes tendências: a primeira, consistente com outros setores, será a de conciliar a necessidade de personalização com o imperativo da eficiência, o que levará o setor a inovar cada vez mais e a cruzar tradição e tecnologia – permitindo escalar negócios e melhorar a performance e a resposta ao cliente sensível à inovação. A segunda será capitalizar autenticidade e tradição, elevando o valor das peças e permitindo valorizar cada vez mais objetos únicos, com valor intrínseco quer em termos estéticos, quer de craftsmanship.

 

 

Eduarda Abbondanza

Presidente Moda Lisboa

 

Portugal tem artesãos maravilhosos, que são o maior bem hoje em dia, e essa escola tradicional tem de ser protegida, salvaguardada, implementada e desenvolvida. Para que este trabalho possa atingir novos potenciais e maiores mercados, é preciso também um desenvolvimento da indústria. Com isto, Portugal conseguirá, a partir de técnicas que são nossas e de características que apenas existem na nossa ourivesaria, adquirir marcas de autor e marcas com alcance global.

 

 

Luís Onofre

Designer e Presidente da APICCAPS

 

O setor da ourivesaria em Portugal é um exemplo claro de uma indústria capaz de se reinventar. Uma indústria que não renega o seu passado. Pelo contato, assenta os seus pilares precisamente nesse inigualável património histórico, mas que soube reinterpretar, como poucos, os valores da modernidade.

 

A ourivesaria em Portugal renassceu no passado recente, numa ação coordenada, de mérito, que tem precisamente na sua Associação, a AORP, um dos principais protagonistas.

 

Hoje por hoje, alia o seu legado a uma nova geração. Fresca, irreverente, com sentido estético apurado e enorme talento. O futuro é incerto, por definição, mas o caminho, no entretanto percorrido, é a melhor salvaguarda para os desafios que, juntos, teremos de enfrentar.

 

 

César Araújo

Presidente da ANIVEC - Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção

 

Enquanto setores de indústria “tradicionais”, ou seja, de longa história, há duas palavras que nunca saem do nosso léxico: reinvenção e resiliência. E aqui a utilização dos “re”s sublinha os contornos da mensagem: ultrapassar crises – de que natureza forem – é algo que não é novo para nós. Aliás, faz parte dos ciclos económicos. O importante não é portanto o contexto em si, mas a nossa capacidade de reação e adaptação ao contexto. E se a fileira da moda soube estar unida para alavancar oportunidades, também continuará unida para fazer face às adversidades. Nesse sentido, olhamos para os próximos 10 anos com a certeza de que – quanto mais alto o desafio e mais forte o adversário – maior será a nossa capacidade de resposta e de união.

 

 

Rui Galopim

Fundador Portugal Gemas Academy e representante CIBJO – The World Jewellery Confederation

 

Em virtude da evolução dos comportamento de consumo, em especial nas gerações mais jovens, creio que o setor irá reforçar a aposta na sustentabilidade ao longo da cadeia de valor, designadamente na neutralidade carbónica, na transparência e na ética das suas operações, nomeadamente em fornecedores responsáveis, e investir na formação dos colaboradores, em especial no retalho, para um melhor conhecimento dos produtos e da sua proveniência e para a incorporação de narrativas de diferenciação com base no carácter responsável e sustentável das marcas. 

 

 


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21 · 05 · 2020