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ENTREVISTA NUNO MARINHO

DESAFIOS E METAS DA NOVA DIREÇÃO

Nuno Marinho é o novo Presidente da AORP - Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal. Transita da direção anterior, liderando agora uma equipa empenhada em promover uma cultura de abertura, transparência e união entre a Associação e os seus Associados. Em entrevista à Jewellery Mag, partilha os principais desafios e metas que a nova direção se propõe alcançar.


Teve como estreia o lançamento da nova campanha de promoção internacional da Joalharia Portuguesa, que tem o mote Legacy. Qual é a mensagem que se pretende veicular?
A nova campanha Legacy celebra a essência da joalharia portuguesa, como um legado. Um legado de arte, de valores, de memórias, passado de geração em geração, num ciclo eterno. Fomos à procura das técnicas e dos desenhos que fazem parte da nossa história e do nosso imaginário coletivo. Mas que não se perderam no tempo. Surgem agora revitalizadas pelo design contemporâneo e por novo consumidor ávido de peças com identidade e história. Em paralelo, a campanha lança uma mensagem de sensibilização para a joia como um bem intemporal e eterno, em contrapondo com a indústria de consumo e produção em massa e com o insustentável impacto ambiental que isso acarreta. As joias são eternas. E nessa eternidade há uma apologia dos princípios de sustentabilidade, do comércio justo e de slow fashion, que queremos defender.

Essa é outra das bandeiras da nova direção: a sensibilização para a sustentabildiade e como o setor se deve adaptar à consciência global para o nosso impacto no planeta. O que está na base desta decisão? 
A sustentabilidade não é uma tendência. É uma emergência. Não é algo que achamos correto fazer. É algo imperativo de fazer. Enquanto representantes de uma indústria, queremos inspirar as nossas empresas a adotar políticas mais sustentáveis de gestão e proteção dos recursos naturais, encorajar a reciclagem e reutilização de materiais, bem como defender princípios de respeito e igualdade para todos. Queremos que o setor da joalharia portuguesa lidere um movimento que a indústria da moda deve obrigatoriamente seguir. Porque afinal, o planeta é o nosso maior legado.

A apresentação da campanha foi marcada pelo showcase aberto ao público de 20 marcas de joalharia portuguesa. A intenção é criar uma maior proximidade entre joalharia e o grande público?
Não podemos ignorar a transformação que existe na relação entre as marcas e o consumidor final. Há um interesse cada vez maior do consumidor no contacto direto com as marcas, em conhecer as caras por detrás de cada projeto, as histórias por detrás de cada peça. Essa proximidade permite criar uma ligação emocional entre o consumidor e a marca, que fica imune a fatores competitivos como o preço. Eleva o posicionamento das marcas e valoriza-as. Esta relação não prejudica o retalho, pelo contrário, gera necessidade. Quanto mais gerarmos e potenciarmos esta necessidade, mais beneficiarão as marcas e o retalho.

O retalho é um dos grandes desafios do setor?
Como em todos os setores, as mudanças surgem dos desafios. Sem desafios não há evolução. E o retalho atravessa atualmente uma das suas fases mais desafiantes. O comércio online, os canais diretos de contato entre as marcas e o consumidor, como as redes sociais, impõem ao retalho uma reestruturação do modelo de negócio, que é no fundo uma oportunidade para uma evolução necessária. Ao contrário das crises económicas, que são cíclicas, esta é uma mudança que não tem retorno, pelo que a adaptação é urgente. Na AORP, estamos muito atentos a esta questão e estamos a preparar iniciativas que visam impulsionar o retalho e criar novas dinâmicas que inspirem essa evolução.

A AORP tem vindo também a reforçar as relações institucionais com as suas congéneres - nomeadamente as associações ligadas ao setor da moda. A união faz a força?
O grande objetivo é a afirmação da marca Portugal. A marca país é uma porta de entrada muito importante nos mercados internacionais. França, Itália, Espanha criaram um posicionamento de país, que serve de alavanca à penetração das marcas. É isso que estamos a tentar fazer em parceria com as restantes associações, nomeadamente as do cluster da moda: posicionar Portugal como país produtor de excelência, que alia a qualidade da produção ao design contemporâneo. Uma produção de pequena escala, mas diferenciada. Para isso temos que criar uma história – o chamado storytelling – recuperando as nossas tradições, a artes, a manufatura. O que nos torna verdadeiramente únicos e é inimitável.

E já sente o impacto desse trabalho? A marca Portugal é já reconhecida e ajuda a "vender"? 
É um caminho de construção. Em mercados como o asiático, a etiqueta Europa ajuda muito à penetração das marcas. Reconhecem qualidade, atenção ao detalhe, tradição, expertise. Na feira de Hong Kong, por exemplo, uma das mais importantes do calendário anual, o pavilhão Portugal tem ganho cada vez mais dimensão e relevância. É muito importante carregarmos connosco a bandeira do país, porque isso ajuda-nos a criar uma imagem internacional. Mas o mesmo vale ao contrário. Acreditamos que a joalharia portuguesa pode vir a ser uma importante bandeira da promoção internacional do país e estamos a trabalhar com o Turismo de Portugal nesse sentido. Somos um setor que representa os valores pelos quais o país se tem tornado tão atrativo aos olhos do mundo. É todo um ciclo de crescimento mútuo que criará as bases certas para a afirmação sustentável da joalharia portuguesa no mundo.





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31 · 10 · 2019